domingo, 3 de dezembro de 2017

CULPA OU COBRANÇA?
José Vanin Martins – 01/12/2.017

            O sentimento de culpa é prejudicial porque nos paralisa. O que fazer com este sentimento? Pais e filhos querem dele se libertar, pegar o sentimento de culpa, livrar-se dele e, inconformado com a situação, cada qual quer livrar-se da culpa. Isto acontece antes, durante e depois da recuperação do dependente. Vamos ver o depois da recuperação quando acontece o grande processo da sobriedade. Correm o risco de  substituírem o jogo da culpa pelo jogo da cobrança.
            Agora é enfrentar o presente. Os sujeitos são os mesmos. Voltam as lembranças.
Na memória emocional do filho ficou registrado o ambiente de casa, a falta de proteção, a severidade demais, a frieza diante dos seus sentimentos, as discussões e a consequente  separação dos pais, a ausência deles pelo excesso de trabalho..., a soma de tudo isto  levou o filho a rebelar-se, desobedecer, repetir de ano, fugir dos estudos e viver a própria vida fora de casa.  Após dezenas de anos e de ter passado por clinicas e/ou comunidades começa o difícil processo de recuperação. Está cansado, nocauteado por tanto tempo perdido. Luta pela sobriedade e sente-se, na necessidade ou no direito de cobrar colaboração financeira, sem definir-se num trabalho que lhe  dê a autonomia  e mais ainda, continua despreparado para compensar o emocional familiar.  
Por parte do pai e/ou mãe a memória emocional criou a ferida d’alma. Em muitas famílias, o casamento que não deu certo; o peso financeiro de quem fica com os filhos, sua sustentação e educação; a necessidade de ficar fora de casa por exigência do trabalho; a frustração diante do sonho idealizado;  o sentimento de estar só; a desobediência dos filhos;  as noites indormidas e o trabalho exigido; o desconforto social; a ausência ou fuga do dependente; o custo do tratamento; o sentimento de medo, de ausência maior;  a difícil busca para acertar; a comparação com aqueles que deram certo. Esgotado financeira e emocionalmente ainda dá um último esforço para ser solidário com o filho na sua busca de sobriedade. Espera exausto que tenha chegado o tempo do filho já maior, ter pelo trabalho, sua própria autonomia financeira.
            Os dois lados: pais e filhos somam as perdas. Todos são vítimas, assim um acaba machucando o outro. O fantasma das lembranças, pode trazer o sentimento da culpa de volta. A triste necessidade de querer que o outro mude por primeiro instala o sentimento da mútua cobrança.  É difícil neste momento lembrar-se da palavra de Jesus: “Quem estiver sem pecado jogue a primeira pedra”.
            Muitas vezes, o sentimento de culpa fica, simplesmente substituído, pelo sentimento da cobrança  sem a compensação do clima de respeito, carinho e verdadeiro perdão.

            Falta germinar para pais e filhos os FRUTOS DO ESPÍRITO: amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão e domínio de si Gal 5,22-23.

Nenhum comentário:

Postar um comentário