CONVERSANDO
24. A EXIGÊNCIA NA DISCIPLINA NA LINHA DO TEMPO
Resolvi
fazer uma viagem pela linha do tempo que vivi. Quis saber como foi no passar do
tempo a influência da exigência na disciplina. Tempos de ontem; os tempos mudam
ou as pessoas mudam com o tempo?
Exigência
e disciplina de ontem. Não tinha TV e o rádio chegou a minha casa quando já
tinha lá meus 8 anos. Lembro-me ainda hoje da entronização do rádio na sala da
minha casa de madeira. Todos ouvidos e até os olhos voltados para aquele objeto
misterioso que trazia a fala, a música não sei de lá de onde para dentro de
minha casa. Todos admirados e atentos por cada som diferente, por cada nova
voz, nova música exigindo o silêncio de todos. Logo meus irmãos mais velhos
tornaram-se os ditadores dos programas e dos horários...
Voltei-me
logo para o meu mundo de criança, minhas brincadeiras em lugar de ficar feito
bobo ouvindo não sei quem, falar de não sei o que... Havia programas para
crianças? Não me lembro. Só me lembro de que o rádio foi mudando de lugar até
encontrar aquele que oferecesse o melhor som e ficasse mais perto dos afazeres
da casa: cozinhar, costurar...
No auge
da brincadeira, lá vinha um grito me chamando, estava na hora de ir para a
escola, na hora de fazer a tarefa escolar, na hora do almoço, na hora do
lanche, na hora do jantar. O tempo todo era marcado pelas chamadas... Não
precisava de relógio.
A vida de
criança não foi só brincar. Fui crescendo e pouco e pouco o grito continuava a
me chamar ora para ajudar na cozinha, ora para varrer a casa, ora para ajudar
meu pai no seu trabalho de encaixotar ovos. Meu pai ia com um caminhãozinho
comprar ovos nos sítios; ainda não havia granjas; nas caixas colocava-se uma
camada de palha de arroz e uma camada de ovos, até a caixa ficar cheia. Ajudar
meu pai nunca foi chamado de trabalho escravo, mesmo quando tinha que obedecer
deixando a minha preferência que era brincar.
Era aluno
da disciplina e nem sabia disto. Na vida tem que ter hora para tudo. O trabalho
tem que ser bem feito, pois do contrário meu pai ou minha mãe mandava fazer de
novo. Não se importavam, nem batiam quando errava. É errando que se aprende.
Quem erra faz duas vezes a mesma coisa.
Cresci
brincando, estudando e trabalhando. Quase não percebi que a distribuição do
tempo para cada atividade foi mudando pouco a pouco. Agora sobrava menos tempo
para brincar e mais tempo era para estudar e trabalhar. Haveria filhinhos de
papai que não trabalhavam e só estudavam?
Na escola
a professora conseguiu nos encantar com o desejo de conhecer, de aprender, de
escrever, de criar, de fazer artes; como era bom estudar; seria estudar também
a extensão do brincar?! Estudava brincando, brincando estudava. Do diretor
todos tinham medo; medo ou respeito? De sua autoridade ninguém duvidava. Às
vezes ele até ia ao recreio. Como era bom o recreio; era uma algazarra só e
logo vinha o apito do diretor de disciplina, chamado de servente, que tinha um
poder mágico de pouco a pouco fazer reinar o silêncio e todos voltarem para as
salas de aula.
Nos
domingos bem me lembro; as melhores roupas para ir à missa; a gente nem entendia
o que o padre rezava. Seu sermão quando era dirigido para as crianças a gente
escutava com curiosidade. Era bom aquele momento, família toda junta rezava e a
paz era selada para mais uma semana do tempo.
Vamos
continuar a conversa? O que pensa você também? Diga sua opinião.
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