domingo, 6 de junho de 2010

POSSO ERRAR ?

01. Sou igual a todos: sou humano e sou animal. Por anos e anos venho esforçando-me para dominar a minha parte animal. Tornei-me sóbrio. Os outros até me admiram pelo homem sábio, prudente, humano e conselheiro que apresento ser. Alguns chegaram, ao ponto, de me colocarem num pedestal.

02. Criei uma auto-imagem que me faz sentir bem. É bem verdade que esta imagem é algumas vezes arranhada na convivência familiar. Na família é bem mais difícil a gente ser “humano”; Na família é mais fácil perceberem nossas garras, nosso instinto animal que só sabe atacar sem antes procurar compreender.

03. Ser o que sou ou apresento ser, quando estou fora do meu ambiente familiar, até parece ser fácil e me traz a recompensa do reconhecimento imediato. Isto ajuda a reforçar o meu desejo de ser cada vez melhor, cada vez mais compreensivo, cada vez mais humano.

04. Reconheço que este modo de ser é contraditório dentro de mim mesmo. Reconheço existir em mim o lado humano convivendo com meu lado animal. Em casa, principalmente, é bem mais difícil sobressair a pessoa bela que quero ser e que consigo ser lá fora. Pudera, dentro de casa não me dão o devido valor e sinto-me cobrado o tempo todo: ainda mais, tenho que agüentar algumas provocações que me ferem profundamente. Estas provocações acabam recebendo respostas do meu lado animal; torno-me frio, calculista, áspero, às vezes calado e cético.

05. Esta contradição faz-me sofrer muito. Sei que meu lado animal pode estourar a qualquer momento. Tenho dificuldades de controlar o meu lado animal. Até hoje aprendi, apenas, reprimi-lo. Muitos ignoram este meu lado animal. Como falar dele para pedir apoio e orientação? Guardo a sete chaves o animal que sou.
06. Por existir esta contradição dentro de mim, quando menos esperava, fora de casa sobressaiu, estourou o meu lado animal. Ao tentar intervir num comportamento insano de meu filho, sem perceber, também fiquei insano; sem saber ouvir e compreender feri verbalmente o outro e fui agressivo.. O estrago está feito. A minha imagem de pessoa sensata ruiu por terra. Como vou agora, apresentar-me aos amigos? O que dirão meus amigos?

07. A sociedade também tem a mesma contradição: seu lado humano e seu lado animal. Quando alguém falha, ela se esquece de ver a história de vida da pessoa e seu foco é o “erro em si” e quanto mais importante é a pessoa tanto mais ela é exposta ao ridículo. Para a divulgação usam até dos meios de comunicação. Está ai para todos verem o Rabino roubando as gravatas..

08. O Rabino soube aceitar a regra de ouro: Por que carregar o peso sozinho se você pode dividi-lo. Ele não se escondeu e nem escondeu seu erro. Pediu e aceitou o perdão, a compreensão de todos os seus verdadeiros amigos. E foram muitos que o compreenderam e o perdoaram. Pôde até abençoar o Papa e por ele ser abençoado.

09. Sentir-se culpado? Envergonhado? Mais importante que tudo é sentir-me humilde, confessar que errei, dizer que meu lado animal, de tanto ficar reprimido, triunfou neste momento; vou humildemente aceitar alguma conseqüência que houver do animal que ficou solto. Vou deixar de vender minha imagem de perfeito; em lugar de reprimir meu lado animal, vou controlá-lo e minha casa será o primeiro laboratório. Vou crescer e estar mais preparado ainda para compreender, quando for a vez do outro errar. O valor da pessoa não se mede pelo tamanho da queda e sim pela capacidade de se levantar.

APROFUNDANDO:
1. Meu lado animal manifesta-se mais em casa ou na rua? Por que?
2. Eu controlo ou reprimo o meu lado animal?
3. Quando o meu lado animal torna-se solto, que sentimentos tenho?
4. O ambiente de casa favorece o controle ou a repressão do lado animal?

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