(Como estou perto dos 80, tenho certeza que meus anos aqui na terra
estão mais próximos do fim. Quero encontrar a morte com serenidade e nesse
texto encontrei uma verdade que muito me esclareceu).
MORRER NÃO É TÃO
RUIM ASSIM
Kathryn Mannix -9 abril
2028> médica britânica pioneira em cuidados paliativos, que dedica sua
carreira a tratar pacientes com doenças incuráveis nos últimos estágios de sua
vida.
A médica explica o que ocorre ao
corpo no fim da vida: 'Morrer não é tão ruim quanto se pensa'. 'A
morte normal é realmente um processo tranquilo - algo que podemos reconhecer,
para o qual podemos nos preparar e algo com o que podemos lidar'.
A sociedade nos leva a evitar falar
desse processo e a substituir a palavra "morte" por eufemismos. E
isso torna muito mais difícil lidar com a perda de um ente querido. "Nós
deixamos de falar sobre a morte. Deixamos de usar a palavra 'morrer' e passamos
a usar outras similares. Em vez de 'morto', dizemos 'falecido'. Em vez de dizer
que alguém está morrendo, dizemos que ele está 'muito doente'.
Quando se usam essas palavras, as
famílias não entendem que está se aproximando o momento da morte. Isso é um
grande problema porque, quando a família está junto ao leito de alguém prestes
a morrer, não sabe o que dizer entre si ou para o próprio doente, que também
não sabe o que dizer ou o que esperar.
Trata-se de uma cena marcada por
tristeza, ansiedade e desesperança. E, na minha humilde opinião, não precisa
ser assim. Acho que perdemos a imensa sabedoria humana de aceitar a morte de um
modo normal. Acho que é hora de voltar a falar da morte e recuperar essa
sabedoria.
Como é morrer normalmente? Assim como nascer, é apenas um processo.
Gradualmente, a pessoa vai se cansando, se esgotando. À medida que o tempo
passa, ela vai dormindo mais, passa menos tempo acordada.
A família pode ir aprendendo
sobre os melhores momentos para dar os medicamentos (ao paciente) ou deixar as
visitas entrarem. Pode acontecer de visitantes ou familiares encontrarem o
paciente dormindo. E muitas vezes pode estar acontecendo uma mudança que é
pequena, porém muito significativa.
'Sabemos que esse estado de coma
(que precede a morte natural) não é
aterrorizante. Simplesmente não percebemos esse lapso à inconsciência no
momento em que ele ocorre'. É que, em vez de estar dormindo, a pessoa pode
estar temporariamente inconsciente.
Não podemos acordá-la nem dar a
ela o medicamento. Não podemos dizer que chegou uma visita. Ainda assim, quando
ela acorda, ela conta que teve um bom sono. Então ficamos sabendo que esse
estado de coma não foi aterrorizante. Simplesmente não percebemos esse lapso à
inconsciência no momento em que ele ocorre.
Som da morte
À medida que o tempo passa, essa
pessoa passa menos tempo acordada, mais tempo dormindo, até que, no final, fica
inconsciente o tempo todo.
'As pessoas falam desse som da
morte como se fosse algo terrível, mas esse som, na verdade, me diz que o
paciente está tão profundamente relaxado, e em um estado de consciência tão
profundo, que sequer a saliva na garganta o incomoda enquanto as bolhas de ar
entram e saem dos pulmões'
Essas pessoas estão tão relaxadas
que nem se darão ao trabalho de pigarrear, limpando a garganta, então pode ser
que a respiração passe por pequenas quantidades de muco ou saliva na parte de
trás da garganta.
Isso pode causar um ruído
estranho, que muitos chamam de 'estertor da morte. As pessoas falam desse som
como se fosse algo terrível, mas esse som, na verdade, me diz que o paciente
está tão profundamente relaxado, e em um estado de consciência tão profundo,
que sequer a saliva na garganta o incomoda enquanto as bolhas de ar entram e
saem dos pulmões.
Então, bem no finzinho da vida,
haverá um período de respiração superficial, e uma expiração que não será
seguida por uma inspiração.
Às vezes é algo tão suave que os
familiares sequer percebem. Por isso, a morte normal é realmente um processo
tranquilo - algo que podemos reconhecer, para o qual podemos nos preparar e
algo com o que podemos lidar.
E isso deveria ser algo a ser
celebrado. Algo com o que podemos nos consolar uns aos outros.
Mas por muitos considerarem
indelicado falar sobre a morte, isso virou, de fato, o segredo mais bem
guardado da medicina. Por isso, na minha opinião, morrer é algo que deveríamos
recuperar, algo sobre o que deveríamos falar e nos consolar mutuamente."
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