quinta-feira, 8 de março de 2018


DEPENDÊNCIA, PERDÃO E ABRAÇO  (2)
José Vanin Martins – março  2.018
            Costumamos dizer que a dependência química é apenas a ponta do “iceberg”. Cada dependente traz uma história de vida. Cada dependente traz consigo uma grande dor de viver, traz uma ferida n’alma. 
            Quando a droga aparece na ponta do “iceberg” todos se assustam e, aí começam as mais variadas explicações. Os pais que não souberam educar, as más companhias, a curiosidade, e as explicações vão se multiplicando. Logo procuram um tratamento. Ao procurarem o tratamento, o foco, é o dependente. As atenções estão voltadas para ele. As repreensões e advertência são para ele. Ele se torna o bode expiatório. Todos querem que ele se cure, que ele mude seus comportamentos, que ele volte a trabalhar, que ele volte a estudar, que ele volte a obedecer, que ele volte a respeitar...
            Alguns até que tentam perguntar por quê? Espiculam com perguntas que mais ferem do que compreendem. Chega se à conclusão e ao veredito:  ELE É CULPADO, alguns mais indulgentes jogam a CULPA na família. Pronto. Nada mais pode ser feito.
            Quantos anos têm esta ferida n’alma? Ela começou no ventre materno?  Ela se desenvolveu na primeira infância? Por quantos e quantos anos ela foi tornando-se tumor maligno e agora já é crônica, pode ser controlada, mas nunca mais será curada.
            Vem o primeiro grande susto. Ninguém quer conviver com um doente crônico. Espera-se por um milagre. O próprio doente se desafia, ele é o primeiro a querer o milagre, ele quer ser curado. Como e quando começou esta ferida? Ele tem medo de revolver o passado. O passado tornou-se uma caixa preta. Nem ele dimensiona o estrago que fará quando a caixa for aberta. Todos esperam que ele peça perdão. Ninguém imagina, nem se pergunta se é ele quem deva nos perdoar.
            E quando não há culpado ou culpados?  A sociedade sabe favorecer o clima para o aparecimento e o crescimento da epidemia. Sabe culpar os fracos adoecidos, mas não sabe mover, um pouco de seu lucro pecaminoso, para a pesquisa científica nesta área. QUEM DEVE PEDIR O PERDÃO?

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