DEPENDÊNCIA, PERDÃO E ABRAÇO (2)
José Vanin
Martins – março 2.018
Costumamos dizer que a dependência
química é apenas a ponta do “iceberg”. Cada dependente traz uma história de
vida. Cada dependente traz consigo uma grande dor de viver, traz uma ferida n’alma.
Quando a droga aparece na ponta do “iceberg”
todos se assustam e, aí começam as mais variadas explicações. Os pais que não
souberam educar, as más companhias, a curiosidade, e as explicações vão se
multiplicando. Logo procuram um tratamento. Ao procurarem o tratamento, o foco,
é o dependente. As atenções estão voltadas para ele. As repreensões e
advertência são para ele. Ele se torna o bode expiatório. Todos querem que ele
se cure, que ele mude seus comportamentos, que ele volte a trabalhar, que ele
volte a estudar, que ele volte a obedecer, que ele volte a respeitar...
Alguns até que tentam perguntar por
quê? Espiculam com perguntas que mais ferem do que compreendem. Chega se à
conclusão e ao veredito: ELE É CULPADO,
alguns mais indulgentes jogam a CULPA na família. Pronto. Nada mais pode ser
feito.
Quantos anos têm esta ferida n’alma?
Ela começou no ventre materno? Ela se
desenvolveu na primeira infância? Por quantos e quantos anos ela foi
tornando-se tumor maligno e agora já é crônica, pode ser controlada, mas nunca
mais será curada.
Vem o primeiro grande susto. Ninguém
quer conviver com um doente crônico. Espera-se por um milagre. O próprio doente
se desafia, ele é o primeiro a querer o milagre, ele quer ser curado. Como e
quando começou esta ferida? Ele tem medo de revolver o passado. O passado
tornou-se uma caixa preta. Nem ele dimensiona o estrago que fará quando a caixa
for aberta. Todos esperam que ele peça perdão. Ninguém imagina, nem se pergunta
se é ele quem deva nos perdoar.
E quando não há culpado ou
culpados? A sociedade sabe favorecer o
clima para o aparecimento e o crescimento da epidemia. Sabe culpar os fracos
adoecidos, mas não sabe mover, um pouco de seu lucro pecaminoso, para a
pesquisa científica nesta área. QUEM DEVE PEDIR O PERDÃO?
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